À Sete Chaves
Quanto tempo havia
passado? Quantos livros perdidos havia adquirido? Quantas histórias
novas de antigos livros não terminados ainda não havia transcrito?
Quantos quantos?
Pegou a chave do
bolso, velha, com leves princípios de ferrugem e colocou na
fechadura com alguma dificuldade. Girou com força e abriu a porta, o
cheiro de mofo exalou num expirar forte e cansado.
Haviam inúmeros
livros espalhados no chão. Logo percebeu que muitos nem eram
próprios da primeira ala - e por um instante se deu conta de que nem
lembrava mais quais eram as alas que vinham em seguida, mas isso
realmente não importava.
Deu um suspiro
cansado enquanto se lembrava do Tolo. Sorriu, a princípio suave, mas
que tentou aos poucos tomar conta de sua boca numa enorme gargalhada.
Levou a mão na boca contento o sorriso e balançou a cabeça.
Precisava arrumar aquilo… Não. Precisava antes de tudo fazer o que
realmente veio fazer.
Ignorou o quanto
pode a organização do Tolo passando pela ala das janelas abertas e
brisa, indo direto a próxima, com o perfume mareado e uma sensação
sempre nostálgica, agradável, ao mesmo tempo que entediante.
Demorou revirando
tantos livros até encontrar o que realmente queria. A capa de um
dourado fosco possuía em sua borda vários laços entrelaçados
desenhados sem um padrão. Não era exatamente bonito, mas havia
beleza para quem soubesse enxergar, e ele sabia. Quanto tempo levara
para fazer aquela capa.
Sentou no chão
ansioso, se embebendo da nostalgia da sala, tentando não se deixar
levar por ela e ignorar o tédio. Abriu o livro e o leu com calma,
relembrando cada página, cada fala, cada letra, cada símbolo.
Sorriu, chorou, sentiu, ressentiu, relembrou, reviveu. Enfim se
deparou com a última página ainda escrita e as incontáveis folhas
em branco à frente. Suspirou. Segurou todas elas com a mão e puxou
com força, mas não era o suficiente. Prendeu o livro com os pés,
segurou o bloco de folhas brancas com as duas mãos e fez ainda mais
força. Nada.
Cansado, começou a
rir quando percebeu o erro que cometera e num estalo entendeu o que
precisava fazer. Pegou o livro, voltou a sala das janelas abertas e o
abriu lá. A brisa se tornou um vendaval que espalhou todas as folhas
em branco voando pela sala enquanto o bibliotecário admirava o
evento fascinado.
Quando a última
folha branca caiu, pegou o livro finalmente terminado e levou-o à
primeira ala. Colocando-o numa estante junta das memórias que nunca
deveriam ser esquecidas… Nem ao menos revividas. E lá ficou sem
nunca mais ser aberto.
uau! Amei seu conto, ficou maravilhoso!
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