Notívagos (reescrito)

  Foi numa rua vazia e mal iluminada onde uma lua minguante mal se observava. Eu estava apenas passando desapercebido, percorrendo meu caminho sem notar que estava sendo seguido.

  Quando percebi era tarde, ela havia pulado em minhas costas, me imobilizando de alguma forma que não pude compreender. Nem os dedos conseguia mover. Senti seus dentes penetrando e tentei gritar, mas não consegui apesar da tamanha dor que tive que suportar.

  Senti minha vida ir aos poucos, a cada gole, cada suspiro se tornava um sufoco. Não demorou para que meu corpo caísse pesado, com aquela coisa ainda em cima de mim, sugando o pouco que me mantinha acordado.

 Nos últimos momentos de consciência, quando minha vista já estava embassada, seu vulto se curvou sobre mim e senti algo frio e viscoso sobre meu rosto, preenchendo minha boca e escorrendo pelo pescoço. Não queria beber, mas minha garganta sorveu contra minha vontade esse estranho líquido que tinha gosto de ferrugem mofada.

 Aos poucos tudo escurecia, aos poucos um gosto doce e uma sensação prazerosa me invadia. Era impossível resistir, já que quanto mais desse líquido se degusta, mais saboroso ele fica. Meu corpo estremecia num calafrio calmo e excitante me fazendo contorcer membros. Era o prazer mais inigualável que já havia sentido em minha vida.

 Eu queria mais... Queria me agarrar no que quer que fosse a fonte daquela ambrosia de desejos e arreganhar minha boca deixando o liquido se despejar eternamente enquanto me regozijava e sentia minha lingua estremecer a cada gole dado...

 Um coice de cavalo atingiu meu peito. Foi como senti. Uma pontada forte e repentina. Morri ali. Segundos depois meus olhos abriram devagar. Um frio enorme me invadia e senti aos poucos meu coração parar.

 Não havia dor, calor ou horror. Tudo tinha um aspecto mais mórbido, sem sentido. Não sabia como, mas sabia que tinha morrido. Olhei para trás e a vi, a criança que tinha feito aquilo comigo, ela deu alguns passos em meio às sombras e sumiu, deixando no ar uma risada irritante e assombrosa que intrigava meus ouvidos...

 Tudo que me restava era aquele imenso desejo daquilo que eu fazia apenas ideia do que ela havia me dado. Aquele assombroso prazer inexplicável de beber a vida. Enquanto não bebia, sobrava apenas a sede, um vazio inexplicável que não se preenchia com nada além do nectar vermelho.

 Por isso estou contando isso pra você agora, pois sua vida será minha, por que você passará por tudo que passei outrora, eu serei a criança que lhe apresentará os prazeres do sangue, mas não da mesma forma que aquela criança me apresentou. E você será a criança pela qual irei zelar, para que eu não me torne um monstro e para me dar alguma esperança... Já que mesmo morto, ainda vivo...

Palavras Adicionais

  Se você leu até aqui, obrigado. Talvez queira ler mais um pouco, talvez não.
Notívagos foi um conto-resposta que escrevi alguns anos atrás para uma amiga que é fã de Crepúsculo (dos livros, não do filme, não que tenha grande diferença).

  O que eu queria com o conto era mostrar a ela que vampiros não são algo que você gostaria de se tornar e sim algo a temer, não temer por que ele pode te matar, mas temer pois ele pode te transformar num deles.

  "Ser um vampiro não é tão legal assim." essa era a mensagem que queria passar com o conto original, mas acabei escrevendo algo quase tão "crepusculiano" quanto o próprio crepúsculo.

 Por isso resolvi reescrever o conto todo, dessa vez como um verdadeiro conto de vampiros e com meu estilo de escrita meio que "poesia em prosa". :P

 Espero que tenha gostado. :)

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