Caminhos Descruzados

(Já tava demorando pra escrever esse conto aqui, ainda preciso escrever umas duas outras idéias que tão na cabeça, mas esse teve uma prioridade especial que precisava escrever... Como sempre, perdoem erros gramaticais e tal. Depois eu reviso.)

Deu tudo errado. Ele acreditou que aquele acordo daria certo para ambos e que os dois poderiam viver quase como qualquer dupla de amigos, mas talvez pelo peso dos seus sentimentos serem dobrados aconteceu o que ele não esperava.

Aquele sentimento novo e único era muito estranho para ele. Forte, intenso, com constantes necessidades de envolvê-la numa cúpula de afetos apenas dados por ele. Queria mimá-la, seduzi-la, protegê-la e acolhê-la eternamente... Mas por que ela ia querer o mesmo? Por que ela ia querer os sentimentos dele?

Sempre foi do tipo estranho, nem entendia a si mesmos ou seus objetivos com sua vida. Com uma face às vezes expressiva e amável, noutras apenas indiferente e frio, com um timbre de voz tênue entre a calmaria das brisas até o estrondar dos trovões, possesso do temperamento das quedas da folhas secas de outono ou do estalar das brasas do carvão em chamas. Ele era impossível.

Havia pessoas que gostavam dele, não por se identificarem por completo, pois isso é quase impossível e ainda mais com ele. Também já havia encontrado pessoas por quem alimentou algum carinho, mas nada comparado ao que sentia por ela. Precisava dar um jeito naquele sentimento e já sabia como.

Não poderia matar algo tão grande, não conseguiria fazer isso sem afetar ela. Sabia que nenhum deles sairia imune, mas poderia dar um jeito de amenizar a situação. Não conseguiria esquecer o sentimento, não se esquece coisa de tal magnitude, só restava apenas deixá-la ir, libertá-la daquela amizade pactual ao qual se restringiram. Depois disso ele apenas relevaria o sentimento, o deixaria onde sempre deveria estar: no passado.

Enquanto pensava sozinho sentado perto a um velho, seco e quase morto carvalho ele a admirava ao longe enquanto ela desenhava alguma coisa em seu caderno. Muitos dias foram assim de pleno silêncio entre ambos, ela fazia algo e ele observava. Por instantes perdeu-se no céu o observando entre os galhos secos do carvalho, notou que ainda haviam alguns vestígios de vida nele, como se lutasse contra a próprio morte, mas uma luta em vão.

Lembrou de quando a conheceu. Ela estava sentada agora como ele, perto de um carvalho vivo e belo, e ele ao passar perto sentiu calor e queria sombra. Aquela era a única árvore dentro de um longo percurso. Maldita árvore.

Tentou se lembrar também de quem ele era antes de conhecê-la, ou no mínimo como era. Não era feliz, nem triste. Não era sozinho, nem tinha amigos. Não era vivo, nem morto. Não era nada. Ela o fez se tornar algo e ele agradeceu muito por isso, mas agora não gostava mais desse algo que se tornara. Precisava ser outro algo, mas sentia como se não pudesse, sentia como se só pudesse ser algo perto dela... Então voltaria a ser nada. Era essa sua decisão.

Levantou, olhou-a por uma última vez sem nenhuma curiosidade sobre o que ela desenhava e deu-lhe às costas. A cada passo na direção oposta à dela ele se sentia mais vazio, a vida perdia parte da graça, seu mundo se tornava preto e branco, as cores sumiam aos seus olhos e ele não conseguia mais olhar pra frente, baixando a face e seguindo os próprios passos com a vista.

Nem mais cogitava as reações que ela teria ao perceber ele indo embora devagar e sem rumo. Não se importava mais. Não podia se importar mais. Precisava libertá-la dele mesmo e seguir seu próprio rumo. Os caminhos de ambos sempre foram distantes e forçar o seu próprio caminho a seguir o dela era suicídio.

Fechou os olhos por um instante para olhar dentro de si mesmo e se ver mais uma vez vazio. Suspirou fundo cansado enquanto sentia pedaços seus se exaurindo ao nada. Em meio ao suspiro sentiu algo estranho, novo, mas bom. Era uma fragrância única e adocicada. Era o cheiro da vida.

Abriu os olhos novamente e aos poucos notava que a cor perdida se recuperava com ainda mais vida que antes, que cada passo seu era mais firme e preciso, o vazio dentro dele não existia mais, ele descobriu uma motivação: ele mesmo. Fazia muito tempo que havia se perdido do seu caminho e agora o reencontrara com uma faísca de chama azul que reanimou sua alma. Não tinha percebido antes que não era apenas ela que precisava se libertar dele, mas ele também precisava se libertar dela. Sorriu como não sorria em muito tempo e continuou a andar deixando todo o resto para trás.

-----

PS: Eu ia escrever um rodo de coisas enormes aqui que ia parecer um desabafo, mas ah... preguiça e era tudo bobeira. Só vou dizer que essa é um final não oficial, mas sim pessoal, pra um conto que escrevi a uns 5 ou 6 anos atrás chamado "A Donzela e o Ceifador".

Nota Irrelevante: Essa é a minha primeira postagem que leva duas tags indicativas "Contos" e "Desabafos", por que sim, dessa vez esse conto é um belo desabafo. Quem me conhece de verdade (duas pessoas) vai entender. x)

Comentários

  1. Profundo. Senti cada palavra deste belo conto (e desabafo). Precisamos de liberdade para nos encontrar ou conhecer e, por fim, viver.
    O desfecho foi surpreendente! :)

    ResponderExcluir
  2. Se ele se libertou de algo que não o pertencia, que bom, então! Se ele encontrou nele mesmo outra motivação pra seguir, melhor ainda.

    Beijos, menino.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Regras para Namorar um INFP

Os Vira-Luas

Oi, eu sou um INFP...